A progesterona é um hormônio feminino, produzido pelos ovários, responsável por regular o ciclo menstrual e preparar o útero para receber e manter uma eventual gestação. Nesse sentido, ela é liberada a partir da ovulação, perto do 14º dia do ciclo menstrual, após a ação do hormônio luteinizante (LH).
Embora seja mais conhecida por sua função na saúde reprodutiva de pessoas designadas mulheres ao nascer, a progesterona também está presente em níveis menores em outros corpos. Ela pode ser administrada em diferentes contextos da medicina reprodutiva, incluindo em pessoas trans ou em casais homoafetivos.
Dessa forma, os níveis de progesterona aumentam após a ovulação e mantêm-se altos caso exista uma gravidez. No entanto, se a fecundação não ocorrer, os ovários deixam de produzir progesterona e o revestimento do útero (endométrio) é descamado e eliminado naturalmente através da menstruação.
De acordo com a Dr. Vitória Piccinini, especialista em reprodução assistida, esse processo é natural e cíclico, mas variações nos níveis hormonais — seja por fatores ambientais, genéticos ou clínicos — podem interferir na regularidade menstrual ou dificultar uma gravidez espontânea.
Assim, podemos afirmar que a presença equilibrada de progesterona no corpo é essencial para a capacidade reprodutiva de mulheres em idade fértil. Já a diminuição dos níveis normais deste hormônio pode resultar em problemas de fertilidade, gravidez ectópica ou abortos de repetição.
Por isso, a dosagem de progesterona é frequentemente monitorada em tratamentos de reprodução assistida. Sua suplementação pode ser indicada como forma de aumentar as chances de implantação embrionária e sustentação da gestação nas fases iniciais.
Qual é a função do hormônio?
Os hormônios são pequenas moléculas que viajam pela corrente sanguínea até chegarem a um órgão. Nesse sentido, a progesterona tem a função de interagir com o útero, a vagina, o colo do útero, as mamas, bem como o cérebro, os vasos sanguíneos e os ossos. Ela desempenha um papel essencial na fertilidade e também na saúde geral de pessoas em idade reprodutiva, independentemente da identidade de gênero.
Dessa forma, associada à gravidez, a progesterona prepara o endométrio para a gestação e estimula este revestimento a ficar mais espesso para receber o embrião (etapa fundamental para que a implantação ocorra com sucesso nos tratamentos de reprodução assistida).
Além disso, ela inibe as contrações musculares do útero, evitando a expulsão do embrião através de um aborto. Nesse sentido, a progesterona é fundamental para que o embrião sobreviva. Assim, durante a gestação, ela também ajuda as glândulas mamárias a se desenvolverem colaborando para a lactação.
Por essas razões, a suplementação de progesterona é amplamente utilizada em protocolos de fertilização in vitro (FIV), ovodoação e outros procedimentos de reprodução assistida, especialmente em fases iniciais da implantação embrionária.
Contudo, entre outras funções, a progesterona também auxilia o organismo a utilizar a gordura como fonte energética. Além disso, ela ajuda na ação dos hormônios relacionados à tireoide, renova a libido, regula o sono, ajuda a manter a densidade óssea e diminui o risco de câncer de endométrio. Também é estudada em abordagens terapêuticas integradas para saúde hormonal:
- em pessoas que passam por variações intensas de ciclo
- em transições hormonais, como na menopausa ou em processos de transição de gênero.
Progesterona durante a menstruação
Vale ressaltar que os níveis de progesterona alternam de acordo com a ovulação. Sendo assim, no início do ciclo menstrual (durante a menstruação) o hormônio fica baixo e continua assim durante a fase folicular. Esse período é especialmente monitorado em ciclos de reprodução assistida, pois baixos níveis de progesterona nesse estágio são esperados e servem como referência para a fase seguinte.
Por outro lado, os índices de progesterona aumentam no meio da fase lútea. Se houver gravidez, a progesterona continuará sua produção, estimulando a formação de vasos sanguíneos no endométrio que alimentarão o feto em crescimento. Esse processo, chamado de decidualização, é fundamental para a implantação embrionária bem-sucedida — tanto em gestações espontâneas quanto nos tratamentos como a FIV.
Uma vez que a placenta se desenvolve, ela começa também a secretar progesterona, substituindo o corpo lúteo. Por esta razão, os níveis de progesterona permanecem elevados durante a gravidez, para que o corpo não produza mais óvulos. Esse equilíbrio hormonal evita novas ovulações e contribui para a estabilidade do ambiente uterino até que a gestação esteja consolidada.
Entretanto, se a concepção não acontecer durante a ovulação, o corpo lúteo se decompõe, diminuindo os níveis de progesterona no organismo. Neste momento, encerra esta fase do ciclo e inicia a menstruação. A queda da progesterona, nesse contexto, serve como gatilho para a renovação endometrial. Esta etapa é fundamental para reiniciar o ciclo e, em tratamentos de reprodução, pode ser controlada com medicações para ajuste de janela de implantação.
Progesterona alterada: quais são os sintomas e diagnóstico?
Como já observamos, os níveis de progesterona se alteram ao longo do ciclo menstrual. No entanto, as alterações de forma exagerada ou prolongada para mais ou para menos, podem indicar problemas no corpo feminino. Saiba o que pode significar cada uma delas:
Progesterona alta
A progesterona alta, segundo a Dra. Vitória, normalmente não é uma condição, mas consequência de outra alteração hormonal no corpo. Nesse sentido, caso não ocorra a fecundação, um nível elevado de progesterona, pode ser um indicativo de problemas como cisto no ovário, hiperfuncionamento de glândulas suprarrenais e câncer de ovário ou de endométrio. É importante lembrar que níveis altos de progesterona em si nem sempre representam risco, especialmente em fases específicas do ciclo ou durante a gravidez. O contexto clínico e os exames complementares ajudam a interpretar corretamente cada caso.
Assim, entre os sintomas mais comuns associados à progesterona elevada, podem estar:
- Inchaço abdominal;
- Sensibilidade ou dor nas mamas;
- Fadiga excessiva ou sonolência;
- Tonturas ou sensação de desorientação;
- Alterações de humor (irritabilidade, ansiedade ou tristeza);
- Dores de cabeça frequentes;
- Queda de libido;
- Acne ou pele oleosa;
- Ganho de peso inexplicado;
- Retenção de líquidos.
Progesterona baixa
Caso os níveis de progesterona fiquem abaixo do ideal, quem deseja gestar pode ter dificuldades para engravidar porque o endométrio não é preparado para receber o embrião. Além disso, como destaca a Dra. Vitória, pessoas com baixos níveis de progesterona e que conseguem engravidar correm maior risco de aborto espontâneo ou parto prematuro. Isto ocorre porque o hormônio ajuda a manter a gravidez.
Em tratamentos como a fertilização in vitro (FIV), é comum a prescrição de progesterona suplementar justamente para evitar esse tipo de falha. Isso é feito especialmente em ciclos com embriões congelados ou ovodoação, onde o corpo não produz o hormônio naturalmente.
Conheça alguns sintomas que indicam o baixo nível de progesterona no corpo:
- Ciclos menstruais irregulares ou curtos;
- Dificuldade para engravidar;
- Abortos espontâneos recorrentes;
- Sangramento entre as menstruações;
- Tensão pré-menstrual intensa (TPM severa);
- Alterações de humor (irritabilidade, ansiedade, depressão);
- Baixa libido;
- Ondas de calor e suor noturno (mesmo fora da menopausa);
- Sono ruim ou insônia;
- Secura vaginal;
- Dores de cabeça ou enxaquecas frequentes;
- Ganho de peso, especialmente na região abdominal.
Vale ainda ressaltar, que algumas condições como prolactina elevada, hipotireoidismo ou síndrome dos ovários policísticos (SOP) podem originar uma ovulação rara ou ausente, o que levaria a níveis baixos de progesterona. Nestes casos, a causa da progesterona baixa deve ter um diagnóstico e tratamento.
Progesterona na gravidez: entenda a relação
Como já abordamos, o papel da progesterona na gravidez é preparar o corpo inteiro da pessoa para receber um outro ser vivo.
Nesse sentido, durante a gestação, a produção de progesterona ocorre inicialmente no corpo lúteo, uma estrutura que surge assim que o óvulo é liberado no ovário e que também tem a função de manter o endométrio adequado e a sustentação da gestação inicial até que a placenta esteja funcional e assuma a produção hormonal.
Além disso, a progesterona ajuda ainda a manter a gravidez, causa o relaxamento da musculatura do útero e por fim, auxilia no desenvolvimento das glândulas mamárias, necessárias para amamentação.
Entretanto, quando ocorre a deficiência da progesterona, pode acontecer falhas no processo de implantação do embrião. Dessa forma, pode haver prejuízo da fase inicial da gravidez, levando muitas vezes a abortos de repetição.
Como diagnosticar a alteração da progesterona?
Para verificar se há alteração nos níveis de progesterona, é fundamental procurar um médico ou médica ginecologista ou endocrinologista que vai solicitar um exame de sangue laboratorial.
Sendo assim, os valores de referência utilizados por laboratórios são os seguintes:
- Início do período menstrual: 1 ng/mL ou inferior;
- Antes da ovulação: inferior a 10 ng/mL;
- 7 a 10 dias depois da ovulação: superior a 10 ng/mL;
- No meio do ciclo menstrual: 5 a 20 ng/mL;
- Primeiro trimestre de gravidez: 11 a 90 ng/mL;
- Segundo trimestre de gravidez: 25 a 90 ng/mL;
- Terceiro trimestre de gravidez: 42 a 48 ng/mL.
Como corrigir os níveis de progesterona?
O tratamento para corrigir os níveis de progesterona normalmente acontece quando a quantidade do hormônio é mais baixa que o normal. Nesse sentido, indica-se o uso de comprimidos de progesterona, como Utrogestan, principalmente no caso de pessoas com dificuldade para engravidar. Já nas grávidas com elevado risco de aborto, a progesterona normalmente é administrada via vaginal pela própria paciente.
Sendo assim, de acordo com a Dra. Vitória, na maioria dos casos, a administração deste tipo de medicamento acontece durante 10 dias seguidos e após o 17º dia do ciclo menstrual. A duração do tratamento e as doses dos medicamentos devem ter cálculos específicos para cada caso.
Já para as mulheres na menopausa, a reposição hormonal, apesar de ser polêmica, é ainda muito indicada para normalizar os índices dos hormônios no corpo.
Por esta razão, independente do caso, ter o acompanhamento clínico é imprescindível para assegurar a saúde e o bom funcionamento do organismo como um todo.
Como aumentar os níveis de progesterona naturalmente?
Para as mulheres que optam por não tomar a progesterona sintética, existem alguns cuidados que podem ajudar a aumentar a concentração do hormônio produzido naturalmente pelo corpo. Veja quais são:
- Tomar chá de cúrcuma, de tomilho ou orégano;
- Aumentar a ingestão de alimentos ricos em vitamina B6, como bife de fígado, banana ou salmão;
- Tomar um suplemento de magnésio, com orientação de um nutricionista;
- Preferir alimentos com elevada quantidade de proteína;
- Fazer uma alimentação rica em vegetais, fruta e legumes de folhas escuras, como espinafre.
Além disso, dar preferência para alimentos orgânicos também pode ajudar na produção de progesterona. Essa recomendação acontece uma vez que os químicos utilizados nos alimentos embalados podem prejudicar a capacidade do corpo para produzir hormônios.
Como métodos anticoncepcionais interferem na progesterona?
Os contraceptivos hormonais são métodos para prevenção da gravidez à base de formas sintéticas de hormônios femininos: o estrogênio e a progesterona. Alguns destes métodos combinam os dois hormônios, enquanto outros têm apenas progesterona. Nesse sentido, os contraceptivos podem agir de duas maneiras para evitar a gravidez:
- Eles atuam para que os níveis da progesterona do corpo fiquem baixos e uniformes, inibindo o pico da ovulação. Dessa maneira, as mulheres não ovulam;
- Espessando o muco do colo do útero, dificultando a chegada do espermatozóide ao útero;
Além disso, eles podem ser tomados via oral, injetados, vaginal, aplicados em forma de adesivos ou implantados sob a pele. Veja mais detalhes sobre os tipos de contraceptivos hormonais:
- Pílula oral: Existem vários tipos de pílulas, inclusive de uso contínuo;
- Anel Vaginal: É um objeto de silicone que a mulher insere na vagina, onde os hormônios liberam-se lentamente para prevenção da gravidez. O anel, portanto, deve ficar dentro da vagina por três semanas contínuas. Na quarta semana, deve ser retirado para ocorrer a menstruação;
- Adesivo anticoncepcional: Com aspecto semelhante a um curativo, o adesivo é colocado no corpo e os hormônios são absorvidos através da pele. Utiliza-se em esquema semelhante ao anel vaginal: três semanas com e uma semana sem o adesivo;
- Anticoncepcional injetável: Aplica-se uma injeção a cada um ou três meses, dependendo do tipo. Contudo, quando se interrompem as injeções, a fertilidade pode demorar até sete meses para voltar;
- Implantes contraceptivos – É um pequeno bastão implantado pelo ginecologista sob a pele, na face interna do braço não dominante, que libera progesterona. O procedimento é rápido, feito com anestesia local e é eficaz por até três anos.
Estrogênio e progesterona: conheça as diferenças
Os principais hormônios sexuais femininos são o estrogênio e a progesterona, produzidos principalmente pelos ovários (sob o comando da hipófise) durante a fase reprodutiva da mulher. Nesse sentido, eles são fundamentais para a puberdade e desenvolvimento das características sexuais femininas como o crescimento das mamas, pêlos pubianos, contornos do corpo e pela fertilidade da mulher.
Todavia, apesar de atuarem conjuntamente no corpo feminino, eles possuem funções diferentes. Saiba mais sobre cada hormônio:
Estrogênio: É o principal hormônio feminino. Ele promove o desenvolvimento das características sexuais da mulher, além de ser responsável pelo crescimento do útero, tamanho de músculos, mamas, glândulas e coxas.
Na adolescência, o estrogênio é o hormônio de maior importância. Nesse sentido, é ele quem define as características dos órgãos sexuais femininos (pilificação, mamas, vagina), além de ser o responsável pela feminilidade da mulher como o brilho do cabelo, a textura da pele e o timbre de voz.
Progesterona: Hormônio que regula o ciclo menstrual, ajuda na formação do embrião, modula o sistema imune para tolerar o embrião e sustenta a gestação. Contudo, sua principal função está relacionada com o preparo do endométrio para o recebimento e manutenção da gestação. Dessa forma, se a mulher tiver alguma deficiência neste hormônio durante a fase reprodutiva, ela pode ter dificuldade para engravidar.
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